A arte de Augusto Cid: um humor inteligente
Por Ana de Albuqerque
No dicionário, a descrição de humor é deliciosa e até parece ter sido feita de propósito para Augusto Cid: Humor «Veia cómica, ironia delicada e alegre, ditos e gestos engraçados e espirituosos; humorismo, comicidade, graça: ele utiliza o humor para encantar a plateia».
O saudoso Augusto Cid nasceu no Faial, mas pouco tinha de ilhéu, pois era aberto ao mundo, sem medos nem claustrofobias. No entanto, “sendo um açoriano”, parte jovem para os Estados Unidos, onde estudou e iniciou a sua carreira de cartoonista.
Conhecido por tantos pelo seu humor, arrojo e talento imenso, Augusto Cid povoa as nossas memórias e logo um sorriso largo nos ilumina a cara.
Ficou conhecido nos jornais por tantos dos seus trabalhos, entre os quais os seguintes: “A Parada da Paródia“, “A Mosca“, “Diário de Lisboa“, “”Observador“, “O Século“, “Vida Mundial“, “O Jornal Novo“, “Povo Livre“, “A Tarde“, “O Dia“, “O Diabo“, “Semanário“, “O Independente“, “Focus”, Lorentis”. Os seus cartoons eram admiráveis, mas igualmente satíricos, pelo que por vezes incomodavam, como é apanágio dos provocadores inteligentes.
Chegou a ser censurado várias vezes. Tanto caricaturou Álvaro Cunhal como o Gen. Ramalho Eanes (O Superman e Eanito el Estático, num livro que foi apreendido judicialmente). Mas a sua arte e talento foi reconhecida, e em 1994 foi feito comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Para além do seu traço admirável, também deixou um legado na escultura, pois este também foi o seu campo de criatividade, deixando, entre várias, a escultura dedicada a Nuno Álvares Pereira, no Restelo.
Enquanto autor, publicou cerca de trinta livros.
A sua personalidade única está bem patente na obra “A Arte de Augusto Cid em Azulejos, o olhar de António Homem Cardoso”, publicado pela editora “By the Book”, onde o autor escreve o que vivia na fase final da sua vida, com um sentido de humor único que tão bem o caracterizava: «Tinha, até há pouco tempo, vivido na convicção de que ter Parkinson era ser colecionador das conhecidas canetas Parker, pelo que resolvi não dar qualquer importância às tremuras da mão direita».
Esta doença limitou-o, mas mesmo assim, com a ajuda da sua filha Mónica, deixou-nos este maravilhoso livro, que resulta do seu notável trabalho em Sete Rios, onde enche de humor os animais do Jardim Zoológico, transpondo-os para cenas do quotidiano, fixando várias características do ser humano.
Dedicou muito de si ao “Caso Camarate” (o acidente aéreo em que morreram, entre outros, Sá Carneiro, Snu Abecassis e Amaro da Costa), numa luta tremenda, pois sempre achou que havia sido um atentado. Esse posicionamento firme, afastou-o da imprensa portuguesa.
Mas foquemo-nos no seu traço magistral e o que está por detrás desse traço: uma observação atenta, perspicaz, inteligente e sempre certeira e com um humor requintadíssimo, difícil de superar.
Admirável cartoonista, soberbo caricaturista e, acima de tudo, um homem afável.