Imagina algum dos antigos Estados satélites soviéticos a serem ameaçados pelo imperialismo russo em breve? Ouviu falar do plano russo, descoberto pelo Governo ucraniano, para derrubar o Executivo bielorrusso nos próximos meses?
Sim, a Bielorrússia está obviamente em risco. A Bielorrússia está em risco desde 2020. A Ucrânia também é um objetivo inegável de longo prazo, e tem sido um objetivo desde os anos 2000, quando Putin chegou ao poder para reintegrar antigos Estados soviéticos, como a Ucrânia, no Estado russo. Temos de pensar sobre o que Putin diz sobre a etnia e a História russas. Há três Estados envolvidos nessa narrativa, não é apenas a Ucrânia. Também em risco estão a Geórgia e a Moldávia. A Moldávia seria o alvo seguinte se a invasão da Ucrânia tivesse corrido como Putin planeou. E, se Putin vencer, esse será o próximo alvo. O objetivo seria integrar a Transnístria também. O mesmo pode ser dito da Geórgia, mas a liderança política da Geórgia realmente não parece reconhecer isso neste momento.
Na Ucrânia, as forças russas têm-se concentrado muito no Donbas, em teoria muito importante para a Rússia. Por que motivos?
Não nos podemos esquecer de que a motivação para esta guerra, legalmente falando, foi apresentada em 2014: a proteção dos residentes da Ucrânia falantes de russo. Se Putin estiver a qualquer momento a pensar num cessar-fogo temporário, a única forma de o justificar é dizendo que a Rússia venceu porque controla o Donbas na totalidade (que inclui Sloviansk e Kramatorsk, as duas principais cidades que ainda não são dominadas pela Rússia). Portanto, há esse incentivo político doméstico.
“Tal como Mariupol, agora ocupada pelos russos, todas estas cidades são importantes para a Rússia, porque a Rússia depende desses enormes projetos industriais para que a economia política do Estado funcione.”
Há uma questão de profundidades estratégicas e de quais são as fronteiras defensáveis, como esta guerra já mostrou. Os russos encontraram e demonstraram ter dificuldades, porque o Donbas não é um bom território para o atacante. Há paralelos que podem ser estabelecidos com a II Guerra Mundial. Durante as ofensivas alemãs iniciais, as tropas nazis pareciam ter conseguido o Donbas, mas, poucas semanas depois, já o Exército soviético recuperara. Se a Rússia está a planear uma nova ofensiva, é muito importante ser capaz de manter os territórios que conquista.
“A razão final do regime é o propósito da guerra.”
Terceiro aspeto e final: o económico. O Donbas já não é o centro da economia da Ucrânia. Após a década de 1990, o Estado ucraniano, como tinham feito os soviéticos, sustentou a economia da região com subsídios maciços, especialmente dirigidos para o minério do carvão e para a produção de aço. Depois de 2014, estas empresas foram embora por causa da guerra e a economia entrou em colapso. A economia da Ucrânia está reorientada e até podemos dizer que o seu PIB se recuperou muito rapidamente depois de 2015. Mas o Donbas ainda detém todo aquele equipamento industrial herdado, sobretudo em grandes cidades como Sloviansk, Kramatorsk, e numa pequena cidade chamada Niu-York, que fica a norte da cidade de Donetsk. Tal como Mariupol, agora ocupada pelos russos, todas estas cidades são importantes para a Rússia, não apenas por causa da sua produtividade económica, mas porque a Rússia depende desses enormes projetos industriais para que a economia política do Estado funcione. A razão final do regime é o propósito da guerra. Trata-se de uma razão económica para a política económica do Estado russo.
Fonte: Expresso