A ESTRUTURA ECONÓMICA E RELIGIOSA DO JULGADO DE BARROSO
As freguesias que hoje integram os Concelhos de Montalegre e de Boticas nos séculos XIX e XX a cultura cerealífera e da batata eram absolutamente dominantes. É o centeio que vemos por todo o lado e é também é responsável por elevados níveis da pobreza da região e emigração, só mitigada, como é sabido, pela criação de gado e produção de carvão vegetal. No século XX, aparece a primeira possibilidade de emprego nas minas de volfrâmio na Borralha – Freguesia de Salto – Montalegre e mais tarde com as obras que a Hidroelétrica do Cávado (HICA) realizou em várias freguesias do concelho de Montalegre como em Ferral, Covelo do Gerês, Venda Nova, Paradela do Rio, Sezelhe e Pisões, onde por necessidade de implementar acessos para as obras destinadas á produção de energia elétrica, abriram algumas acessibilidades para as localidades onde a EN 103 não passou. Esta rodovia foi no tempo uma obra estruturante para a região de Barroso, nomeadamente o Baixo Barroso. Pena foi só servir os lugares na margem esquerda do rio Rabagão, deixando a margem direita isolada. Outra obra estruturante para o Baixo Barroso em termos viários foi a construção da barragem da Venda Nova que no seu coroamento incluiu uma ponte sobre o rio Rabagão na localidade do Cambêdo que ligou a margem direita do Rio Rabagão á EN103 (margem esquerda). Esta obra permitiu o acesso a freguesias que estavam praticamente isoladas, como Covelo do Gerês, Ferral, Cabril e Paradela do Rio. Mais tarde foi ligado todo o Alto Cávado a partir de Paradela. do Rio. A Viação Automotora, empresa privada de transporte de passageiros que já fazia o percurso de Braga a Chaves, passou também a ligar Paradela do Rio à Venda Nova onde eram disponibilizados autocarros que se dirigiam á cidade de Braga e de Chaves. A dificuldade era chegar aos lugares de paragem dos referidos autocarros, nalguns casos à distancia era superior a 10 km, que eram percorridos a pé como do lugar Lapela e Azevedo ou de Pincães, que apanhavam o autocarro para Braga na Freguesia de Salamonde já no concelho de Viera do Minho. Os moradores de Covelo tinham de se levantar ás cinco da manhã para palmilhar a encosta da montanha por um carreiro a fim de apanhar o autocarro que tinha paragem na Cruz da Estrada, onde recolhia passageiros de Azevedo, Covelo e Santa Marinha no inverno ainda de noite. A camioneta da Viação Automotora de Braga (VAM), vinha de Paradela do Rio onde terminara o transporte na noite anterior. O seu motorista era o Senhor Constantino Fortunas, que morava em Paradela do Rio. Podemos dizer que o dia começava muito cedo para o senhor Constantino que saía de Paradela do Rio pelas seis da manhã e nos pontos da estrada combinados como paragens recolhia o povo que aparecia para entrar na camioneta, dirigindo-se para o lugar da Venda Nova. Aí estavam prontos a partir dois autocarros que distribuíam os passageiros na direção das cidades de Braga e de Chaves.
As várias obras lançadas pela HICA necessitavam de operários e ao criarem os transportes houve mais gente que conseguiu trabalho saindo de casa de manhã bem cedo regressando à noite. Foi uma revolução para quem estava isolado e tinha que se deslocar para o emprego. Os trabalhadores locais não chegavam para as encomendas, pelo que veio gente de vários pontos do País para trabalhar. Só quem ingressou no seminário teve hipótese de adquirir melhores empregos, porque a escola pública, onde havia, não passava da quarta classe. Já no século XX, foram criados dois colégios particulares um em Montalegre e outro na Borralha, que permitiram a alguns alunos continuarem os estudos. Pode dizer-se que duma forma geral a maioria do emprego disponível era pouco qualificado foi fornecido pelas aldeias de Barroso. Nestes casos passou a haver em algumas casas de Barroso, um ordenado regular, que veio desafogar as finanças das famílias, durante a duração das obras.
Com o fim da segunda guerra mundial a empresa das minas da Borralha que era o maior empregador do Concelho, deixou de haver procura de volfrâmio que era usado na produção
de armamento e o desemprego atingiu as minas que levaram ao seu encerramento.
Também as obras da Hidroelétrica do Cávado (HICA) foram terminando pelo final dos anos sessenta voltamos ao desemprego, que foi substituído pela imigração para França e Alemanha que estavam a necessitar de mão de obra.
A instalação de centrais hidroelétricas de grande potência na região de Barroso obrigou a obras que implicaram acessibilidades e emprego local. Progredimos mais nesses vinte anos do que nos oito séculos anteriores.
É verdade que foram oito séculos perdidos a trabalhar para sobreviver, pagar impostos, comer mal e morrer na miséria. É a esta miséria que o povo foge, com a emigração para a Europa, devastada pela guerra que estava em franca recuperação do flagelo da segunda guerra mundial e com falta de mão de obra. Começou aí a fuga da população do interior para o estrangeiro e para as cidades mais próximas, provocando a desertificação do interior do País nomeadamente da Região de Barroso. Neste momento algumas aldeias somente resistem devido a alguns reformados, que regressaram para gozar o seu merecido descanso. Quem fica na aldeia ou tem uma reforma razoável ou tem poucas hipóteses de viver com dignidade. A criação de gado e a lavoura em propriedades de pequena dimensão, face á orografia montanhosa do terreno e ao clima adverso, com neves, geadas e grande calor no verão, são muito trabalhosas e pouco lucrativas. As condições que referimos desincentivam atualmente qualquer mortal que queira no Barroso sobreviver da lavoura. É preciso dizer-se que durante a idade média não havia a opção de abandono da terra, porque a preocupação era: encontrar emprego ou morrer de fome. As inquirições de 1258, sobre Covelo do Gerês, já referem três vinhas existentes neste lugar, que deram nome ao famoso verdasco de Covelo.
O conteúdo desta monografia é na sua quase totalidade constituído por documentos que foram transcritos, conforme o português e a gramática usada na época. Uns foram publicados na sua totalidade, outros nas partes que consideramos relevantes para o conhecimento da história destas freguesias.
Fonte: Monografia de Covelo do Gerês de Manuel Afonso Machado e José Miranda Alves