Na transição energética a eletrificação é um dos caminhos, não o único…
Importa considerar vectores de energia complementares e sustentáveis, como o hidrogénio verde e os biocombustíveis
Quando se identificou a necessidade de combater as alterações climáticas, muitos acreditavam que o futuro seria 100% elétrico. Nos últimos 30 anos, foram realizados inúmeros estudos técnico-científicos com vista a definir o melhor cenário de descarbonização 100% elétrico. Esses estudos deixaram evidentes dificuldades e limitações tecnológicas, tornando-se consensual que, em muitos casos práticos, a eletrificação direta não seria nem eficaz nem económica, e em muitos sequer possível. Face às limitações tecnológicas identificadas, preocupações geopolíticas e escassez de recursos naturais, torna-se fundamental explorar todas as soluções energéticas possíveis que contribuam para acelerar a transição e a independência energética.
Ainda que a descarbonização dos sectores dos transportes, edifícios e indústria passe pela utilização de eletricidade de origem renovável, e que todas as previsões mostrem que as redes elétricas serão a coluna dorsal de todo o sistema energético sobre a qual as sociedades sustentáveis irão progredir, é necessário considerar vectores de energia complementares e sustentáveis, como o hidrogénio verde e os biocombustíveis. Interessa por isso colocar na agenda mediática a temática dos biocombustíveis gasosos, como o biogás, biometano e biopropano, excelentes substitutos do gás natural e do propano, respetivamente. Sendo quimicamente equivalentes aos seus sucedâneos, são totalmente compatíveis com as infraestruturas existentes e com os milhões de equipamentos instalados no país.
A sustentabilidade dos biocombustíveis é geralmente bem entendida pelas pessoas, já a particularidade da neutralidade carbónica gera questões. A questão principal é: “Se a combustão de biocombustíveis gasosos emite CO2 para a atmosfera como é que estes contribuem para a neutralidade carbónica?” Para explicar, podemos fazer a analogia entre o ciclo do CO2 e o ciclo da água, ou seja: iniciando o ciclo na queima de um biocombustível gasoso, como por exemplo o biogás, descreve-se o ciclo em quatro passos simplificados: primeiro, a queima de biogás emite CO2; de seguida, o CO2 emitido para a atmosfera é absorvido pelas plantas no processo de fotossíntese; por sua vez, as plantas originam, de forma direta ou indireta, resíduos orgânicos; e por fim, no exemplo de um biodigestor anaeróbico, os resíduos orgânicos são convertidos em biogás, reiniciando-se assim o ciclo.
Fonte: Expresso