Afinal os Americanos têm dúvidas que Cabrilho seja Espanhol

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Estátua em San Diego dedicada ao navegador português João Rodrigues Cabrilho.

A “GUERRA DAS PLACAS” ENTRE PORTUGAL E ESPANHA

Sabíamos que o Ecos de Barroso é lido nos quatro cantos do Mundo.

Soubemos agora que foi referenciado pelo jornal espanhol El País no artigo “A Guerra das Placas” a propósito de uma crónica escrita pelo investigador João Soares Tavares em janeiro de 2022 no Ecos de Barroso, na qual defendeu a nacionalidade portuguesa de João Rodrigues Cabrilho, o descobridor da Costa da Califórnia natural do concelho de Montalegre.

Para quem não esteja lembrado o Ecos de Barroso recorda: a “guerra das placas” começou em 28 de setembro de 2018 pelo festival anual em honra de Cabrilho em San Diego da Califórnia, quando uma delegação espanhola colocou junto da estátua do nosso compatriota, (Ver fig.) uma placa na qual gravaram a suposta nacionalidade espanhola do navegador. Quem não aplaudiu foi a comunidade portuguesa de San Diego e João Soares Tavares, biógrafo de Cabrilho, que ao ter conhecimento deste caso escreveu a crónica “João Rodrigues Cabrilho Português ou Espanhol?”, que o Ecos de Barroso também publicou, na qual depreciou a colocação dessa placa e apresentou informação documental que contraria a nacionalidade espanhola de Cabrilho. Em finais de 2018 o assunto chegou a ser debatido numa reunião da Câmara Municipal de Montalegre embora não se conheçam resultados visíveis.

Entretanto passaram 4 anos e, eis que, os responsáveis pelo Monumento de San Diego ordenaram a retirada da placa. Para melhor conhecimento do leitor reproduz-se excerto do artigo do jornal espanhol El País.

EXCERTO DO ARTIGO DO JORNAL EL PAÍS DE 15 DE JULHO DE 2022

INTITULADO “A GUERRA DAS PLACAS” ENTRE PORTUGAL E ESPANHA

TRADUZIDO DO ORIGINAL ESPANHOL:

« Juan Rodriguez Cabrillo ou João Rodrigues Cabrilho?

Essa é a pergunta que os responsáveis pelo Monumento Nacional de Cabrillo, uma grande área natural que inclui um museu, lojas e um farol, encabeçada pela estátua do conquistador da Baía de San Diego (Califórnia, Estados Unidos) em 1542, não sabem como responder. Por isso, a primeira resolução ao enigma foi devolver à Casa de Espanha a placa colocada em 2018 junto ao monumento que recordava que o navegador era originário de Palma del Río (Córdoba) . » (…) Em resposta, « a prefeitura de Córdoba vai pedir ao embaixador e ao governo que intervenham “porque, embora uma placa possa ser removida, a verdade não pode, a verdade é inalterável.” No entanto, o investigador português João Soares Tavares defende que o navegador nasceu no seu país, numa pequena localidade chamada Lapela, perto da fronteira com a Galiza, e que até a sua casa natal ainda se mantém. Num artigo publicado em janeiro de 2022 no Jornal Ecos de Barroso, explica que chegou a esta aldeia por acaso, e admite que Rodrigues terá emigrado para a Galiza quando jovem. “Naquela época Lapela era um lugarejo de pastores pertencente à paróquia de São Lourenço de Cabril. Portugueses e galegos levavam o seu gado para pastar nas mesmas montanhas sem quaisquer restrições. Provavelmente, um galego [suposto pai de Cabrilho] fixou-se na Lapela de Cabril e casou com uma portuguesa. Os vizinhos ao identificarem a casa onde o casal morava chamaram-lhe Casa do galego. No final do século XV ou início do século XVI nasceu João Rodrigues”.

João Soares Tavares sustenta que uma carta de Cortés enviada a Carlos I em 30 de outubro de 1520 refere três soldados de nome Juan Rodríguez. O português, segundo a sua opinião, para se distinguir de seus homónimos, acrescentou o sobrenome Cabrilho ou Cabrillo ao seu nome. De onde ele tirou? Soares considera claro que corresponde ao topónimo da paróquia de Cabril a que pertencia Lapela. “Terá sido registado e baptizado na igreja de Cabril, embora não o possamos confirmar porque os livros paroquiais dos séculos XV e XVI desapareceram”, admite. No entanto, Soares reforça a sua afirmação recordando que o cronista de Castela, António de Herrera (1549-1625), faz referência na sua Historia general de los hechos de los castellanos en las islas y tierra firme del mar océano al capitán Juan Rodríguez Cabrillo, portugués, persona muy plática en las cosas de la mar«.

No referido artigo do Ecos de Barroso, João Soares Tavares reforça a naturalidade de Cabrilho em Lapela de Cabril e explica: «Como facto indesmentível existe uma casa em Lapela conhecida desde há muito por casa do galego, onde certamente João Rodrigues Cabrilho nasceu e viveu durante a sua juventude. Parece um pormenor banal, mas não, é um facto histórico digno de registo. Chamo a atenção para o seguinte: o apelido galego colou-se ao navegador, pois um porto da costa mexicana do Pacífico que ele descobriu no Outono de 1540 ficou conhecido por Porto de João Galego (Puerto de Juan Gallego) em referência óbvia ao seu descobridor. Até então, era somente do conhecimento dos nativos locais que o designavam Cihuatlán. O descobrimento resultou de uma ordem dada a Cabrilho pelo Governador da Guatemala e pelo Vice-rei do México no sentido de descobrir um bom porto na costa mexicana mais a norte ainda inexplorada. Está documentado. Entre outros, o bispo da Guatemala Don Francisco Marroquin, testemunhou o facto num processo judicial verificado entre a família de Cabrilho e o então governador da Guatemala Don Francisco de la Cueva, pois estava presente quando o nosso compatriota reconheceu o porto. (7) Constata-se: João Rodrigues Cabrilho era vulgarmente conhecido entre os marinheiros com os quais se relacionava, mormente pela tripulação do seu barco por João Galego, apelido ligado à casa onde nasceu em Lapela. O topónimo Puerto de Juan Gallego foi oficializado para Navidad por ser Natal o dia em que aí aportou a frota com o vice-rei do México, que inicialmente se destinaria às Especiarias (Molucas). Não poderá haver dúvidas de que os topónimos citados se referem ao mesmo porto, o porto descoberto pelo nosso compatriota. Transcrevo de um documento mexicano: El Virrey don Antonio de Mendoza llegó con su armada al propio puerto, el 25 de diciembre de 1540. Precisamente por ser día de Navidad, se le impuso ese nombre al antiguo Puerto de Cihuatlán o de Juan Gallego (8).»

«(7) Méritos Y servicios de Juan Rodriguez Cabrillo, in Anales de la Sociedad de Geografia e Historia,  Archivo General del Gobierno de Guatemala

(8)  Pizano y Saucedo, Carlos, El Puerto de la Navidad y la expedición de Le- cazpi, México, 1964»

Conclusão: Foi um ato de justiça os responsáveis pelo Monumento de San Diego dedicado a Cabrilho devolverem à Associação Casa de Espanha, a placa com a gravação da suposta naturalidade de Cabrilho em Palma del Río (Córdoba).   Este procedimento encheu de alegria os portugueses que nunca deixaram de acreditar na nacionalidade portuguesa de Cabrilho, e provocou uma dor de cabeça aos espanhóis. Porém, segundo o citado artigo do El País, as autoridades de Córdoba não vão descansar enquanto não recolocarem a placa anterior.   O Ecos de Barroso que se orgulha de noticiar em Portugal a retirada da placa da discórdia, ficará atento às cenas dos próximos capítulos da “guerra das placas”, nomeadamente como vão reagir as autoridades portuguesas e, em particular, os montalegrenses, porque este caso diz-lhes diretamente respeito.

Manuel Machado

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