MAIS PROVAS EM DEFESA DA NACIONALIDADE PORTUGUESA DE CABRILHO

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Dr. João Soares Tavares

(CONTINUAÇÃO)
Por:
João Soares Tavares
Na primeira parte do meu estudo publicado neste Jornal com o título “AFINAL QUAL É A VERDADEIRA NACIONALIDADE DE JOÃO RODRIGUES CABRILHO?”, analisei o livro de Wendy Kramer “El Español que exploró California: Juan Rodríguez Cabrillo, De Palma del Rio a Guatemala”, 2018, no qual baseado em documentação histórica contestei a autora ao desviar no livro citado a nacionalidade de Cabrilho para Espanha, e registei provas sólidas em defesa da nacionalidade portuguesa do navegador. Para complementar o estudo a que me propus, compilei neste artigo algumas evidências históricas que se encontravam dispersas em artigos que escrevi em diferentes publicações, conforme anunciei devidamente em nota de rodapé no 17.

1 – João Rodrigues Cabrilho após ter participado em 1520-21 na conquista do México incorporado no exército de Hernan Cortés, em 1523 partiu à conquista da Guatemala na qualidade de comandante de um grupo militar da hoste de Pedro de Alvarado. Foi um dos fundadores da primeira capital colonial da região guatemalteca – Santiago de los Caballeros – em 25 de Julho de 1524.
Como facto digno de nota, a nacionalidade portuguesa do nosso compatriota é sugerida na acta de 12 de Agosto de 1524 que tem registada a lista dos primeiros “102 vecinos fundadores de la ciudad”. (27) João Rodrigues (note-se, sem “Cabrilho”, pois sendo o único “vecino” com o nome João Rodrigues, evitaram juntar ao nome o que eu considero ser uma alcunha para o distinguir de homónimos) está registado 29o vecino, (28) ou habitante estabelecido na cidade, o que “implicaba la asignación de um solar o tierra claramente delimitada en la traza urbana; (…) y tierra de labor que se asignaron en el valle circunvecino”. (29) Nessa acta está assinalada a origem dos habitantes: “ocho de apellido vasco; dos se declaron gallegos; hay un asturiano, un griego, un português y dos italianos.” (30) Embora indefinido, não será descabido admitir: o português é provavelmente João Rodrigues. Conforme se confirma pelas actas del Cabildo de 1524 a 1530 registadas no Libro Viejo de la Fundación de Guathemala, manteve-se o único habitante da cidade com esse nome. (31) Relativamente aos restantes habitantes, a nacionalidade ou local de nascimento não está registada na acta provavelmente por serem castelhanos.

Fig. 1 – “Pedra tumular de Cabrilho”. (Fotografia de João Soares Tavares). A pedra original encontra-se na Universidade de Berkeley, Califórnia

Fig. 2 – Sigla “JRs” na “Pedra tumular de Cabrilho”. (Fotografia de João Soares Tavares) A pedra original encontra-se na Universidade de Berkeley, Califórnia

2 – Cabrilho durante anos passou por dificuldades inimagináveis quando atravessou as terras inóspitas do México, Guatemala, Honduras, El Salvador, quantas vezes em lutas mortíferas com a população azteca e com os descendentes dos maias. Melhor ou pior conseguiu fintar a morte.
Porém, marcou encontro com ela numa ilha do Pacífico em consequência de uma queda
acidental. (32) . Era o dia 3 de Janeiro de 1543. (33)
O local da sepultura é desconhecido. Escavações efectuadas resultaram infrutíferas. Em 1901, durante uma pesquisa arqueológica realizada na ilha de Santa Rosa, descobriram uma pedra coberta de fungos e musgo que fazia lembrar uma estela. (Fig. 1). Inicialmente não lhe reconheceram interesse significativo. Todavia, tiveram o cuidado de a preservar. Anos depois, “em 1956 e, depois em 1972, os cientistas que se ocuparam do seu estudo arqueológico e epigráfico, admitiram ser a pedra que marcou o túmulo de João Rodrigues Cabrilho.” (34)
Preservada na Universidade de Berkeley na Califórnia, guardava um segredo, só descoberto
após o estudo. “ Note-se: o ‘Rs’ gravado, refere-se a Rodrigues na designação portuguesa. (Fig. 2) Na designação espanhola seria ‘Rz’ (referente a Rodriguez). Com efeito, alguns
companheiros mais chegados de Cabrilho que faziam parte da tripulação do seu navio, teriam por certo conhecimento da sua nacionalidade portuguesa e do seu nome autêntico. Estava pelo menos mais um português presente quando Cabrilho faleceu, o mestre Antonio Correa.” (35)
Gravaram na “pedra tumular” a sigla “JRs” referente ao seu nome genuíno português: João
Rodrigues.

Fig.3 – Mapa antigo da vila San Pedro de Puerto de Caballos fundada por Alvarado em 27.06.1536, estando Cabrilho provavelmente presente. ( A.G.I.)

3 – Destaco um documento de 1536: o «Testimonio del estado de despoblacion en que se
hallaba la provincia de Honduras à no haberla socorrido el adelantado Alvarado… Um dos
signatários é “Juan Rodriguez portugues, ombre de caballo” » (36)
Não poderá ser confundido com um homónimo, pois certifica-se documentalmente a presença de Cabrilho naquele ano em Honduras. “ Um documento assinado por Pedro de Alvarado nessa cidade (San Pedro de Puerto de Caballos localizada em Honduras, Fig. 3) em Julho de 1536, refere-o como capitão de um exército que lhe deu ajuda, nas lutas travadas nas Honduras e Hugueras.” (37) Em documento datado de 20 de Julho do mesmo ano, Alvarado concede a Cabrilho duas “encomiendas” em Honduras: “as povoações de Teota e Cotela” com todos os senhores índios bárrios e estâncias” (38) Foi provavelmente em consequência dos serviços prestados pelo nosso compatriota nesse ano de 1536 no referido território.

As provas registadas, a juntar às que foram apresentadas na primeira parte do meu estudo, são esclarecedoras e suficientes para injustificarem a nacionalidade espanhola de João Rodrigues Cabrilho. Creio não subsistirem mais dúvidas sobre a sua nacionalidade portuguesa.

Para terminar, informo os meus estimados leitores que manifestam interesse pela leitura dos meus trabalhos e, os críticos inquisitoriais seja pela pena de escrevinhador arvorado em conselheiro moralista, seja pela pena de jurista com toga adquirida no penhorista da esquina, continuarei a minha caminhada no encalço dos passos brumosos de João Rodrigues Cabrilho procurando levar mais longe possível o conhecimento da vida fascinante do nosso compatriota, assim as forças o permitam.
(João Soares Tavares escreve segundo o anterior acordo ortográfico)

NOTAS

(27) Tavares, João Soares, “Notas complementares para a Biografia de João Rodrigues
Cabrilho”, Revista Aquae Flaviae, Julho de 2020, reproduzido de Libro Viejo de la Fundación de Guathemala, Archivo General del Gobierno de Guathemala”, in Anales de la Sociedad de
Geografia e Historia
(28) Tavares, João Soares, ibidem
(29) Idem, ibidem
(30) Idem, ibidem
(31) Idem, ibidem
(32) Tavares, João Soares, “João Rodrigues Cabrilho Um Homem do Barroso?”, CMM, 1998,
reproduzido de Paez, Juan, Relación del descubrimiento q hizo Juan Rodríguez navegando por la contra costa del Mar del Sul al Norte, Coleccion de documentos inéditos relativos al
descubrimiento, conquista y colonizacion de las posesiones españolas en América y Oceânia, Archivo General de Indias, Sevilha
(33) Tavares, João Soares, ibidem

(34) Tavares, João Soares – “João Rodrigues Cabrilho Um Homem do Barroso?”, CMM, 1998, reproduzido de Heizer, Robert – A probable relic of Juan Rodriguez Cabrillo, Discover of California, The Masterkey, Berkeley,1973
(35) Tavares, João Soares, ibidem
(36) Tavares, João Soares – João Rodrigues Cabrilho um Homem do Barroso?, 1998,
reproduzido de Patronato, Archivos del reino y muy especialmente del de Indias. (A.G.I.)
(37) Tavares, João Soares, idem
(38) Idem, ibidem

 

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