O CORÇO DO “GERÊS” IV   (*)   

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Dr. João Soares Tavares

O CORÇO DO “GERÊS” IV   (*)                        

João Soares Tavares

                     

   (Continuação)

Fig. 1 – Durante o mês de Maio as corças afastam-se para o interior fechado e sombrio do bosque para darem à luz.

 

Durante o mês de Maio as corças afastam-se procurando no interior fechado e sombrio do bosque o lugar apropriado para darem à luz e, aí se recolhem, um processo semelhante ao verificado noutros cervídeos, nomeadamente na fêmea do veado também designada corça. (1) No primeiro parto a fêmea pare apenas uma cria, duas no segundo e daí em diante duas a três.

Nos primeiros dias, as crias permanecem a quase totalidade do tempo escondidas na vegetação.

Inicialmente os jovens são visitados pela mãe somente o tempo necessário para os amamentar. Este aparente desprendimento tem por finalidade despistar os predadores. Atraídos pela presença da fêmea, as crias seriam presa fácil.

Quando os jovens conseguem acompanhá-la, a fêmea chama o macho e a família assim constituída mantém-se unida até os pequenos corços abandonarem os progenitores, já aptos a sobreviverem independentes.

No Verão a pele do corço atinge um tom fulvo ocráceo, chamando-se cor de Verão.

Fig. 2 – Com a chegada do Outono a cor das florestas transforma-se, também a pelagem do corço acompanha a modificação do ambiente que o envolve.

Com a chegada do Outono a cor das florestas transforma-se. Também o corço acompanhando a modificação do ambiente que o envolve, vai mudando a cor da sua pelagem que é agora de um cinzento acastanhado.

Por sua vez, o macho perde gradualmente a agressividade até à queda total das hastes, que ocorre geralmente no mês de Novembro.

O Inverno chega. A folhagem das plantas cai e os dias sombrios regressam às serras nortenhas. A cor da pele do corço atinge uma modificação total. É agora cinzenta, vulgarmente designada cor de Inverno, numa perfeita harmonia com o ambiente envolvente.

Em Dezembro inicia-se usualmente o crescimento da nova armação prolongando-se até Março. Nos primeiros tempos as hastes novas estão cobertas por um veludo de que o animal se desembaraça pouco a pouco esfregando as hastes nos troncos de árvores ou de arbustos.

Na Primavera a nova armação já se encontra liberta de todo o veludo apresentando-se com o aspecto novo e bem aguçada conforme mostra a figura 1 do capítulo «O corço do “Gerês” I ».

Entretanto, a pelagem vai ficando mais clara até atingir no Verão a coloração fulvo ocráceo, a designada cor de Verão.

NOTA:

  • Em algumas regiões serranas ouvimos designar o corço por veado. Para    a fêmea utilizam indiferentemente a designação corça ou corço.

Também já lemos em publicações de certa responsabilidade: “os veados                       do Gerês”, que cientificamente não está correcto, porque aquela serra não é habitat natural desse cervídeo.

(Continua)

 (*) Este texto jornalístico foi adaptado do estudo realizado pelo signatário durante os anos oitenta do século passado, publicado na Revista NOESIS nº 12, Lisboa Novembro de 1989.

Às Direcções do Parque Nacional da Peneda-Gerês, do Serviço Nacional de Parques Reservas e Conservação do Ambiente, e dos Serviços Florestais e Aquícolas, em actividade nos anos oitenta do século passado, manifesto o meu agradecimento pelas facilidades concedidas durante a pesquisa realizada.

(A reprodução do texto e fotografias que compõem este trabalho só é autorizada mencionando a origem.)

(João Soares Tavares escreve segundo o anterior acordo ortográfico)

 

 

 

 

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