O CORÇO DO “GERÊS” V (*)
João Soares Tavares
(Continuação)
Para se fazer um estudo pormenorizado do corço, recorre-se ao processo da captura. O método consiste em obrigar os corços por meio de batida a dirigirem-se para redes onde acabam por se enredar. Tive oportunidade de acompanhar algumas capturas realizadas por técnicos especializados nomeadamente em diferentes serras da raia nortenha.
Uma vez capturados procedeu-se com o máximo cuidado para não traumatizar o animal ao exame geral: medição, pesagem e marcação por meio de um brinco de plástico para se estabelecerem comparações em futuras recapturas.
Constatámos que o comprimento total do corço varia entre 95 cms e um máximo de 135 cms. A altura ao garrote está compreendida entre 60 e 80 cms. O peso oscila entre 15 kg nos jovens e 35 Kg nos adultos.

A extremidade do focinho é negra com os lábios brancos. Os pavilhões auriculares são de tamanho apreciável para um cervídeo tão pequeno, o que em parte explica poderem detectarem os mais pequenos ruídos. (Fig. 1)
Não possui apêndice caudal. Os membros são compridos e finos com os posteriores mais longos que os anteriores, que lhes permitem dar saltos consideráveis quando perseguidos pelos predadores.
A principal diferença que distingue o macho da fêmea é a existência naquele de uma armação. O espelho (mancha branca localizada posteriormente à garupa) também apresenta configuração diferente.
Contrariamente ao que por vezes se afirma, não é fácil detectar a idade do animal pelo aspecto das hastes. Estas apresentam muitas vezes anomalias motivadas por deficiente alimentação e estado de saúde, entre outras causas. O melhor processo é a observação do desgaste dos dentes.
Às vezes o corço é impropriamente confundido com o veado e com o gamo. Embora sejam espécies zoológicas da mesma família, o corço distingue-se facilmente daqueles cervídeos por ser mais pequeno e não possuir apêndice caudal.

A armação também apresenta diferenças significativas. No veado é bastante desenvolvida e ramificada enquanto no gamo as hastes são espalmadas na parte terminal. A armação do corço não ultrapassa normalmente as três pontas no adulto, estando condicionada ao ambiente do bosque onde vive. (Fig. 2) Se fosse maior como no caso do veado ou do gamo, poderia aprisionar-se no emaranhado dos ramos durante uma fuga.
(Continua)
(*) Este texto jornalístico foi adaptado do estudo realizado pelo signatário durante os anos oitenta do século passado, publicado na Revista NOESIS nº 12, Lisboa Novembro de 1989.
Às Direcções do Parque Nacional da Peneda-Gerês, do Serviço Nacional de Parques Reservas e Conservação do Ambiente, e dos Serviços Florestais e Aquícolas, em actividade nos anos oitenta do século passado, manifesto o meu agradecimento pelas facilidades concedidas durante a pesquisa realizada.
(A reprodução do texto e fotografias que compõem este trabalho só é autorizada mencionando a origem.)
(João Soares Tavares escreve segundo o anterior acordo ortográfico)