CURIOSIDADES
João Soares Tavares
O SINAL DE TRÂNSITO MAIS ANTIGO
Fiz uma pausa na rubrica “CURIOSIDADES” iniciada em finais do ano passado, para recordar o navegador João Rodrigues Cabrilho que viu a luz do dia em Lapela de Cabril do concelho de Montalegre, descobridor da Costa da Califórnia no séc. XVI, tão mal-amado até por conterrâneos. Faleceu a 3 de Janeiro de 1543, portanto, no dia 3 deste mês completaram-se 478 anos sobre a sua morte. Por essa razão dediquei-lhe uma memória. (Veja-se Ecos de Barroso, 28/12/2020). Hoje retomo a rubrica referida com mais uma curiosidade certamente pouco conhecida.
Já alguma vez imaginou o que seria conduzir um automóvel numa grande cidade se nesse dia retirassem todos os sinais de trânsito até aí existentes? E se fosse em Lisboa? Inimaginável! Talvez algumas amolgadelas, troca de impropérios com alguma pancadaria à mistura. Pois até aos finais do século XVII o código da estrada e os sinais de trânsito eram inexistentes, até nas cidades com maior número de habitantes.
Foi D. Pedro II (12/09/1683 – 09/12/1706) o primeiro rei a inquietar-se com os problemas do trânsito em Lisboa que não raras vezes eram resolvidos com cabeças partidas seguindo uns intervenientes para o hospital e outros para o calabouço. Preocupado com tais desacatos o rei ordenou a colocação de 24 sinais nas ruas da capital para ordenar o trânsito das carroças, dos coches e das liteiras. Os cocheiros, lacaios ou liteiros foram expressamente proibidos de usar adagas, bordões ou arma de qualquer natureza utilizável numa discussão de trânsito. Aos transgressores eram aplicadas penalidades severas. Cada um pagaria dois mil cruzados de multa e estava sujeito a ser exilado para o Brasil, consoante a dimensão do desacato.
Curiosidade digna de nota, desses 24 sinais de trânsito apenas um sobreviveu. Encontra-se no bairro de Alfama na rua do Salvador. É uma placa de mármore que se reproduz na figura com o seguinte texto: “Ano de 1686. Sua Majestade ordena que os coches, seges e liteiras que vierem da Portaria do Salvador recuem para a mesma parte”. Portanto, as viaturas que transitassem da parte superior da rua perdiam a prioridade em relação aos que subiam.
(João Soares Tavares escreve segundo o anterior acordo ortográfico)