Os isolamentos a fazer perigar o funcionamento de um país nas suas várias valências

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Bom dia.

Há exatamente um ano, Portugal ultrapassava fasquias a que não ambicionava chegar. Nunca neste século tinham morrido em território nacional tantas pessoas num só dia, a cada novo dia, numa sucessão linear de 26 recordes de mortalidade que começou a 10 de janeiro de 2021 e só terminaria a 4 de fevereiro, sempre acima das 600 mortes diárias e atingindo um máximo de 748.

De acordo com o Sistema de Informação de Certificados de Óbito (SICO), só janeiro do ano passado tirou à população nacional mais de 21 mil pessoas. É preciso recuar a 1918 e à gripe espanhola para encontrar um mês com números maiores. A pandemia de covid-19 vivia a sua pior vaga, com o boletim da Direção-Geral da Saúde a lamentar um recorde de 303 vítimas diárias, e um impacto que chegou a 47% de todas as causas de morte no país.

Hoje, qualquer comparação que se faça com esses dias só encontra semelhanças na semântica pandémica: também agora se vive uma vaga. Tudo o resto é diferente. Este janeiro de 2022 é dominado pelo crescimento das infeções diárias mas não pela morte, nem pelo colapso dos serviços de saúde. Nas últimas 24 horas, com mais de 279 mil casos ativos e 20.212 novas infeções, registaram-se 20 mortes, há 1588 doentes internados em ambulatório e 161 em cuidados intensivos. Há um ano, no mesmo dia, havia 107 mil positivos no país – menos de metade -, mais 7500 infetados (-63%) mas lamentavam-se 102 óbitos (+510%) e o internamento de 4328 pessoas (+247%), 558 das quais em UCI (+346%).

Às vezes é preciso fazer as contas para olhar para o copo e vê-lo meio cheio de vida. E de vacinas. Por esta altura, em 2021, o plano de inoculação nacional contra o SARS-CoV-2 tinha arrancado há apenas 16 dias, com a proteção dos profissionais de saúde da linha da frente e dos idosos institucionalizados. Hoje, 89,86% da população portuguesa está imunizada, 32,5% já recebeu uma dose de reforço – ontem teve início o auto agendamento para os maiores de 45 anos – e mais de 300 mil crianças dos cinco aos 11 anos, cerca de metade do universo elegível, iniciaram a vacinação.

As preocupações viram-se agora para o impacto social e económico da mui contagiosa variante ómicron, com os isolamentos a fazer perigar o funcionamento de um país nas suas várias valências. Portugal já começou ontem a aligeirar as medidas mais restritivas para evitar um lockdown sanitário involuntário. As escolas reabriram – hoje inicia-se a testagem de 220 mil professores e pessoal não docente – e abriu-se a malha aos contactos de risco, acesso a eventos e à duração dos confinamentos obrigatórios, mas ainda nada está decidido quanto ao exercício do direito de voto nas legislativas, no próximo dia 30, de quem o vírus fechou em casa.

Ontem, Francisca Van Dunen, na pasta de ministra da Administração Interna, revelou que por essa altura haverá cerca de 380 mil cidadãos confinados, um número semelhante ao das últimas presidenciais, em que apenas 4% requereram voto domiciliário. Em cima da mesa está ainda a possibilidade de existir um horário específico para a votação dos isolados, mas só após a receção do parecer pedido à PGR se saberá quem ganha o duelo: o direito ao sufrágio ou a proteção da saúde pública.

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