A Ponte da Misarela, na categoria Lendas e Mitos, é uma dos 140 finalistas regionais da edição 2020 das 7 Maravilhas. Um feito notável se atendermos ao facto de terem sido apresentadas mais de 500 candidaturas. Segue-se um programa de repescagem, a realizar no dia 16 de Agosto, onde o voto popular decidirá quais os 8 repescados, a partir dos 20 segundos classificados nas finais regionais. Estes 28 semi-finalistas serão distribuídos por critérios de proximidade geográfica, em duas semi-finais, que irão apurar os 14 finalistas, a realizar nos dias 23 e 30 de agosto. A 5 de setembro será efetuada a declaração oficial das 7 Maravilhas da Cultura Popular® – SICAL, no prime-time da RTP.
PONTE DA MISARELA – LENDAS E MITOS – Finalista Regional
A Ponte da Misarela ou “Ponte do Diabo” situa-se em Sidrós, na freguesia de Ferral, concelho de Montalegre. Esta construção erigida sobre o Rio Rabagão é berço de duas das mais inusitadas lendas de Portugal. Crê-se que foi construída pelo próprio Diabo.
Em tempos remotos um fidalgo duriense (ou seria um criminoso terrível?) fugia desalmadamente aos seus perseguidores. Acossado pela captura iminente, o homem aventurou-se para os lados do Rabagão que, nessa altura, corria tempestuoso. Na impossibilidade de passar a corrente pediu em vão a intervenção divina. Lembrou-se então de invocar o poder do Diabo prometendo-lhe, caso o auxiliasse na fuga, a sua alma. Nesse momento surge-lhe o Diabo que aquiesce ao seu pedido estendendo à
sua frente uma ponte. Assim fugiu o homem, que nesta região viveu muitos anos. Às portas da morte, com a alma prestes a ser entregue ao Diabo, o homem revela o seu pacto a um padre, que o absolve de todos os pecados. Movido pela fé, o padre desloca-se, disfarçado de lavrador e a coberto da noite, ao local onde o Diabo havia estendido a ponte. Aí invoca Satanás prometendo-lhe a alma em troca da passagem. A ponte surge como por magia à sua frente e o padre ao atravessá-la benze-a com água benta, molhada num raminho de urze (ou será alecrim?) ao mesmo tempo que recita um exorcismo. O
vulto negro de Satanás, encoberto por uma espessa nuvem de enxofre desaparece como por encanto, deixando no ar um forte cheiro a pez e incenso mas… a ponte fica de pé, firme e bela, ligando as duas margens.
A Ponte da Misarela conserva um ritual, hoje praticamente extinto, que consagra o monumento como um lugar mítico, sagrado e mágico na cultura popular. As mulheres grávidas, com medo de abortar, acompanhadas pelo marido e outros familiares dispõem-se a pernoitar na ponte. Devem esperar que não passe nenhum animal depois do pôr-do-sol e aguardar pela primeira pessoa que aí passar que, por sua vez, será convidada a apadrinhar a futura criança. Ninguém recusou jamais o pedido, que é considerado um dever moral. O batismo é realizado na mesma hora: de uma corda comprida suspende-se um púcaro de barro negro, baixado à profundidade do abismo que recolhe a água para a cerimónia.
A futura mãe recebe no ventre a água do Rabagão e o padrinho recita a oração «Eu te baptizo, criatura
de Deus, pelo poder de Deus e da Virgem Maria, se fores rapaz serás Gervaz, se fores rapariga, serás Senhorinha». Atualmente ainda existem Gervásios e Senhorinhas em toda a região, que constituem a prova viva dos seus rituais.
O município de Montalegre – a par com o município de Vieira do Minho e em conjunto com as associações locais – tem vindo a potenciar turística e culturalmente a Ponte da Misarela, nomeadamente através da marcação de percursos pedestres, realização de provas de trail, celebração do Entrudo e a realização anual da Festa da Ponte da Misarela, onde são recriados os elementos lendários, fantásticos e históricos que fazem desta ponte e a sua envolvente um local verdadeiramente mágico.
Fonte: www.cm-montalegre.pt