Preço da eletricidade no mercado ibérico dispara e fica a uma “unha negra” de bater máximo histórico.
Portugal vi ter que abrir os cordões a bolsa, para compra no mercado (MIBEL) a energia de que necessita.
Apenas 75 cêntimos irão separar o preço diário da eletricidade no mercado grossista de Portugal e Espanha do recorde registado a 7 de outubro. O preço médio para esta terça-feira será de 287,78 euros por megawatt hora (MWh), o segundo mais alto de sempre
Omercado grossista de eletricidade da Península Ibérica sofreu nos últimos dias um recrudescimento do preço médio diário e a produção contratada para esta terça-feira, 14 de dezembro, terá um custo médio de 287,78 euros por megawatt hora (MWh), o segundo registo mais alto de sempre no mercado ibérico (Mibel), apenas 75 cêntimos aquém do máximo histórico de 7 de outubro deste ano, que chegou a 288,53 euros.
Os preços da produção de eletricidade para esta terça-feira oscilarão entre um mínimo horário de 250 euros por MWh e um máximo de 320 euros por MWh, de acordo com os dados publicados pelo OMIE, o operador do mercado diário do Mibel.
O preço médio de terça-feira, os referidos 287,78 euros, fica 7,3% acima do registado esta segunda-feira (268 euros por MWh), que se tinha afirmado como o segundo dia mais caro de sempre no Mibel, depois de na véspera o mercado ibérico ter registado o domingo mais caro de sempre da sua história (256,98 euros por MWh).
O disparo dos últimos dias acontece depois de dezembro já ter registado dois dias de preços excecionalmente baixos para a atual conjuntura… mas ainda assim elevados para a média histórica do Mibel (que desde a sua criação, em 2007, contava anualmente com preços médios em torno dos 50 euros por MWh).
De facto, a 5 e a 8 de dezembro o Mibel teve preços diários de pouco mais de 100 euros por MWh, influenciados principalmente por um abundante recurso eólico, que reduziu a necessidade de recurso a centrais de ciclo combinado a gás natural, que há vários meses têm registado custos operacionais muito elevados, quer pelo aumento do preço do combustível, quer pelo encarecimento das licenças de emissão de dióxido de carbono (CO2).
Mas os últimos dias foram pautados por um agravamento dos custos no mercado grossista, com o preço médio diário a somar quatro dias consecutivos de subida.
PENÍNSULA IBÉRICA A TODO O GÁS
Os dados do OMIE mostram que esta terça-feira Portugal e Espanha terão um aumento na produção de centrais a partir do gás natural, que irão preencher uma parte muito relevante da procura diária de eletricidade na Península Ibérica, para compensar a redução no volume de energia eólica disponível.
De acordo com o OMIE, a produção eólica desta segunda-feira, estimada em 100 gigawatt hora (GWh), encolhe na terça-feira para cerca de 77 GWh, ao passo que a produção das centrais de ciclo combinado a gás aumenta de 278 para 299 GWh.
A comparação com o final da semana passada evidencia variações mais acentuadas, que ajudam a explicar a volatilidade do preço diário (agora mais exposto ao gás). Na sexta-feira a produção eólica ibérica ultrapassou os 419 GWh (e amanhã será de apenas 77 GWh), deixando a produção das centrais a gás nuns residuais 33 GWh (face aos quase 300 GWh estimados para esta terça-feira).
O atual desenho do mercado ibérico (e da generalidade dos mercados grossistas de eletricidade pela Europa fora) leva a que sempre que seja necessário um maior recurso a centrais a gás o preço médio diário acabe por refletir os custos marginais dessa tecnologia.
E a verdade é que os últimos dias têm registado novos aumentos da cotação internacional do gás, bem como das licenças de CO2, levando as elétricas que têm centrais a gás a cobrar mais para produzir eletricidade.
Este domingo a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, sublinhou em declarações à estação televisiva ZDF, que continua a não haver condições para a Alemanha certificar o novo gasoduto Nord Stream 2, o que introduz ainda mais incerteza sobre quando poderá a Europa reforçar a sua importação de gás da Rússia.
FUTUROS APONTAM CENÁRIO SOMBRIO
No mercado de futuros de eletricidade do mercado ibérico, operado pela plataforma OMIP, os contratos de maturidades além dos contratos diários sugerem que os próximos trimestres continuarão sob forte pressão, em termos de preços grossistas.
O contrato mensal para janeiro fechou na sexta-feira nos 269 euros por MWh (o valor mais alto de sempre para este contrato). Fevereiro e Março têm igualmente preços acima dos 200 euros por MWh. E os contratos mensais seguintes apontam para preços grossistas acima de 150 euros por MWh pelo menos até junho (mais do triplo da já referida média histórica do Mibel de 50 euros por MWh).
E esse patamar de preços deve estender-se para o início de 2023, já que o contrato para o primeiro trimestre de 2023 está nos 150 euros por MWh, segundo o OMIP.
QUAL O IMPACTO PARA O CONSUMIDOR?
Esta nova escalada dos preços grossistas na Península Ibérica terá maior impacto nos consumidores industriais do que nos domésticos, já que as grandes indústrias têm as suas tarifas de eletricidade mais expostas ao mercado grossista, enquanto as famílias têm uma parte considerável da fatura assente em tarifas de acesso à rede elétrica, tarifas essas que são reguladas, e que segundo a proposta do regulador da energia para 2022 irão baixar.
Essa redução nas tarifas de acesso é resultado do desaparecimento, em 2022, de um conjunto de custos fixos do sistema elétrico (o fecho da central a carvão do Pego é um deles) e de um desvio muito significativo (a favor dos consumidores) nos custos da produção do regime especial (que junta renováveis, como a eólica e solar, e cogerações), regime que passa a ter custos mais baixos do que os preços de mercado estimados para o ano que vem. Essa diferença produz uma redução substancial das tarifas de acesso entre 2021 e 2022, compensando o agravamento do custo da energia no mercado grossista.
Além disso, a esmagadora maioria das famílias contrata a sua eletricidade com preços válidos por um ano, e por isso imunes à volatilidade de curto prazo do mercado grossista. Muitas empresas, pelo contrário, têm a componente de energia da sua fatura elétrica indexada aos preços grossistas.
A ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos propôs em outubro uma redução de 3,4% nas tarifas para clientes finais no mercado regulado (mais de 900 mil famílias) face aos níveis atuais (embora os novos preços em janeiro de 2022 fiquem 0,2% acima de janeiro de 2021).
O valor definitivo da atualização para janeiro será anunciado na próxima quarta-feira, 15 de dezembro.
Na sua proposta tarifária a ERSE assumiu um pressuposto de preço grossista de eletricidade para 2022 que está significativamente aquém dos valores atuais dos futuros para 2022. O pressuposto da ERSE em termos de preço grossista no próximo ano é de 105 euros por MWh, enquanto os futuros anuais para 2022 estão agora nos 184 euros por MWh.