Poucas festas em Portugal conseguem, de modo tão afrmativo e unânime, associar a cultura popular aos desafos da contemporaneidade. A “Sexta 13” – Noite das Bruxas, em Montalegre constitui, provavelmente, o mais disseminado exemplo da reinvenção das tradições populares de Trás-os-Montes.
A sua essência reside nos serões tradicionais de Barroso, espaço onde o fadeiro de contos e estórias do arco da velha preenchiam as longas noites de invernia. Contos e lendas, magia e superstição, trocadilhos e lengalengas eram partilhados com os mais novos, resultando num processo de transmissão da sabedoria e cultura popular de Barroso, hoje em processo de recuperação. Parte desta tradição oral, sobretudo ligada à superstição e ao fantástico, foi recuperada pelo padre Fontes no início da década de 1980, por intermédio do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes e, posteriormente, transposta para os restaurantes e espaços públicos de Montalegre dando origem à “Sexta 13” – Noite
das Bruxas. A longevidade da “Sexta 13”, associada à sua permanente reinvenção, preconiza a natureza agregadora e fraterna das grandes celebrações transmontanas. Elementos estruturantes do evento como a superstição, o misticismo, a festa como fenómeno de exaltação social e contexto de celebração pública mas, principalmente, um curioso sentimento de afrontação a todas as formas dogmáticas de olhar a vida, moldam a sua matriz identitária.
Assente na superstição ligada, por um lado ao número 13 onde, como refere o padre Fontes «Os dias 13 são de azar, assim como o número 13. Estando 13 pessoas à mesa, uma delas morre. É preciso pôr, em que seja uma criança, ou sair um dos comensais” e, por outro, à sexta-feira em que “às terças e sextas nem urdas a teia, nem cases a flha», o evento eleva a cultura Galaico-Barrosã ao patamar de grande festa popular. A relação com a Galiza é umbilical, plasmada na récita do esconjuro, poema/feitiço com raízes do outro lado da “fronteira viva”, onde o misticismo e a superstição desempenham papel semelhante no imaginário coletivo.
Fonte: Site CMM