Uma Bica Por Favor!

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Dr. João Soares Tavares

Uma Bica Por Favor!

A história de hoje já tem alguns anos. Um lisboeta de viagem pelo norte do país
entrou num Café, dirigiu-se ao balcão e pediu: uma bica por favor. O
empregado empertigado respondeu-lhe: bicas só na padaria em frente.

O primeiro pensamento do lisboeta foi: este sujeito está a gozar comigo. Respirou
fundo e atirou-lhe a seguinte frase: então essa máquina de onde está a sair um
líquido escuro para dentro de uma chávena serve para fritar ovos?
O caldo ficaria entornado se um cavalheiro ao presenciar a cena não se
intrometesse e virando-se para o empregado disse-lhe: Alfredo tira aí um café
para este senhor.
Feitas as explicações e serenados os ânimos, o lisboeta continuou a sua
viagem pelo norte, mas, passou a usar o termo café sempre que lhe apetecia
beber uma “bica”. Quanto ao empregado, enriqueceu o seu vocabulário.
Conforme se constata, o vocábulo “bica” que na região de Lisboa identifica um
café em chávena ou em copo, no norte em geral, não é (ou não era) aplicado.
Qual a origem da “bica”? Não existe unanimidade. Vejamos o que consegui
apurar na documentação pesquisada, aliás escassa, sobre o assunto. A teoria
mais consensual parece ser a seguinte:

A Brasileira do Chiado abriu as suas portas ao público a 19 de Novembro de
1905, vendendo o “genuíno café do Brasil”. Adriano Telles, seu fundador,
vivera bastante tempo no Brasil, mantendo aí contactos que lhe permitiam
importar café e outros produtos sem dificuldade. Três anos depois, o sucesso
do estabelecimento levou a que se construísse uma Sala de Café, novidade na
época e que rapidamente se tornou local de encontro obrigatório da elite da
cidade de Lisboa. Advogados, médicos, jornalistas, artistas (entre eles
Fernando Pessoa e Almada Negreiros), revolucionários e estudantes ali se
juntavam para beber café e conversar. A partir de 1920, dizia-se inclusive que
no Porto e em Coimbra se trabalhava e estudava e que em Lisboa se
conversava e faziam revoluções. Nesse início de século não existiam ainda as
máquinas de café expresso, sendo o café passado por sacos e vertido por uma
torneirinha (bica) para cafeteiras utilizadas para servir o café à mesa. Nestas
cafeteiras o café acabava invariavelmente por arrefecer e perder o seu aroma.
Conta-se que um dia alguns clientes reclamaram da qualidade do café, sendo
necessária a intervenção do proprietário que pediu a um empregado para
encher uma chávena directamente da bica, ou seja, do saco. Com um sabor e
aroma mais intensos, os clientes adoraram a bebida passando a pedir que o
seu café fosse trazido directamente da bica numa chávena. Assim terá nascido
o termo “bica”.
Outra explicação:

Esta versão refere que, quando surgiram na capital as primeiras máquinas de
café expresso, os frequentadores dos estabelecimentos não estavam
habituados ao seu sabor forte e amargo. Como consequência, este tipo de café
não era muito pedido. Como forma de contornar o problema, foram colocados
cartazes nos estabelecimentos com o slogan: “Beba isto com açúcar”. A
campanha resultou e, das iniciais de cada palavra (BICA) nasceu a designação
para esta bebida.
Aqui deixo ao meu estimado leitor as possíveis explicações. Apenas mais uma
curiosidade!

(João Soares Tavares escreve segundo o anterior acordo ortográfico)

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