MONTALEGRE VAI TER O “ DIA DE CABRILHO”?
João Soares Tavares
Em Janeiro de 1543 a tripulação da frota comandada por João Rodrigues Cabrilho no descobrimento da Costa da Califórnia invernava numa ilha do Pacífico. Reparavam os barcos e aguardavam condições climatéricas favoráveis para prosseguirem a viagem. Cabrilho não partiu. Vencedor de tantas batalhas foi vencido por um ferimento resultante da queda numa rocha dessa ilha. Faleceu a 3 de Janeiro de 1543. Completaram-se neste mês 476 anos. Em homenagem ao valoroso combatente e marinheiro, os seus companheiros denominaram à ilha João Rodrigues, posteriormente rebaptizada ilha de São Miguel por quem não soube respeitar a memória de um Homem notável.
Montalegre deverá ter um procedimento distinto. Portanto, em artigo publicado no jornal O Povo de Barroso de 13 de Março de 1998 referenciei uma carta dirigida ao Presidente da Câmara de Montalegre na qual propus a criação do “Dia de Cabrilho” a 3 de Janeiro de cada ano. Cito do referido artigo: «Por várias vezes demonstrei e escrevi quão importante será manter viva a memória desse navegador do séc. XVI. Revelar às novas gerações de Barrosões a sua personalidade fascinante, o lugar que ocupa na História Mundial. Para tal, nada melhor do que criar o “Dia de Cabrilho” – um dia evocativo com actividades culturais direccionadas preferencialmente para os mais novos. Pelo menos um dia por ano Cabrilho seria evocado. Para que esse dia se concretize, é indispensável que a autarquia esteja envolvida. Resolvi então propor ao Sr. Presidente da Câmara de Montalegre a instituição do “Dia de Cabrilho” no concelho a 3 de Janeiro dia do aniversário da sua morte.
Em resposta à minha carta tive o grato prazer de receber um ofício do Sr. Vereador do Pelouro da Cultura (então Prof. Orlando) onde refere: “…o assunto está a ser devidamente ponderado”. Sinto o dever de divulgar e registar este facto.» (in O Povo de Barroso de 13/03/1998).
Desde esse dia já longínquo de 1998 passaram semanas, meses, anos. Perdi o número de vezes que oralmente e por escrito em palestras, em diálogos, em crónicas nos jornais onde colaboro, reacendi o assunto com a finalidade de homenagear e projectar o herói navegador natural do concelho de Montalegre (Lapela de Cabril). Todavia, a autarquia montalegrense somente em momentos pontuais revelou sensibilidade perceptível às propostas apresentadas para a criação do “Dia de Cabrilho”. Foram apenas lampejos que logo se esfumaram.
Receio que dentro de poucos anos ninguém saiba articular meia dúzia de palavras acerca do filho mais ilustre de Montalegre e caia irremediavelmente no esquecimento dos homens se não forem aplicadas medidas adequadas. Nomeadamente, os alunos do concelho pouco ou nada sabem sobre a vida e a obra de João Rodrigues Cabrilho. Nos restantes jovens portugueses a ignorância está generalizada.
Mantenho a esperança de que a criação do “Dia de Cabrilho” por quanto simboliza irá concretizar-se. O meu desígnio que há mais de duas décadas conjecturei e divulguei chegou à reunião camarária deste mês de Janeiro pela boca dos vereadores Prof. José Carvalho de Moura e Dr. José Moura Rodrigues. Da proposta apresentada transcrevo o ponto 1:
“ Determinar o dia do falecimento do navegador, 3 de Janeiro, como “Dia de Cabrilho” associado a um programa simples como forma de, todos os anos, ser lembrado e homenageado.”
A História veio ao encontro dos homens. Saibam os homens honrar a História. Fico a aguardar o beneplácito. Então, poderei aplicar o provérbio: “Mais vale tarde que nunca.”
(João Soares Tavares escreve segundo o anterior acordo ortográfico)